domingo, 10 de julho de 2011

A (des) razão do blog

Há uma razão clara para este blog (a que não quero, idiossincrasias!, chamar blogue): fazer uma aposta na força. Falo agora como homem: sóbrio, cartesiano, idêntico a mim mesmo. Não serei filósofo comentador de filósofos. Estes, em rigor, não merecem outro título senão o de comentadores de filósofos. Tampouco me dedico a análises literárias, como se o culto a divindades não me tivesse sido arrancado à alma. Comigo não haverá retorno do recalcado. Serei doravante, quando tudo concorrer para tanto, simplesmente eu mesmo, isto é, um não-eu. Serei a negação de mim, e afirmação de mim. Serei o contrário do que sou, justamente porque também não sou. Faço deste espaço a pura manifestação da impetuosidade da vida que não quero silenciar, e que peço ao leitor não a silencie.

Filho do meu tempo que sou (rebelde, é verdade, mas filho), irrompeu-me fígado adentro a ideia de procurar uma causa, no sentido psíquico, para minha iniciativa. À validação de muitos leitores, poderá um dia ela, e esse lhe seria um dia de glória, tornar-se científica. Ei-la, bem à maneira de Freud:

“Minha abstinência sexual, minha agressividade e crimes contidos. Fosse-me dado o deleite cotidiano da atividade sexual, e não haveria mais nada para mim: seria simplesmente puro gozo carnal, literal. Não me censurassem vós, ó criaturas humanas, e minha vingança seria meu fim, meu deleite único, e tudo estaria consumado.”

Em se tratando de atividade sexual, temo – e  desejo ardentemente – que minha velhice chegue antes mesmo que minha vida sexual ativa (conforme jargão dos que adoecem e morrem de tanta saúde). Mas isso não importa ao leitor, que certamente não se sentirá à volta com um desejo ardente de se banhar comigo no êxtase mágico dos corpos ardentes. Como ardente sou eu, e ardente é meu corpo, que também sou eu.

Espero que a vida não me canse a ponto de eu a castrar, e que meu corpo não morra nunca, conquanto minha alma já tenha morrido. Morreu-me a alma sem que eu percebesse: serei corpo, ancestralidade, pura revolta anti-cartesiana e anti-kantiana. Serei a vontade de Schopenhauer, banhada em Freud, renovada em Lacan, e finalmente desfeita em Clarice Lispector.

Serei.

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